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Por onde começar a estudar sobre saúde mental

Quando me perguntam por onde começar a ler e estudar sobre saúde mental respondo sem titubear: Franco Basaglia.


Por que? Porque ainda hoje são os textos de Franco Basaglia que conseguem alcançar o cerne da questão e desnudar a ideologia psiquiátrica. Ler Franco Basaglia e estudar a experiência de Trieste de desinstitucionalização é como se dar conta que você sempre teve um véu em seus olhos, luvas em suas mãos, uma máscara em seu rosto e um tampão em seus ouvidos e, durante a leitura, descobrir não apenas que todos esses aparatos acobertam o que necessita realmente ser visto, sentido e escutado, mas perceber que você não precisa deles. Você simplesmente não precisa deles. Inclusive, descobre que viver e agir sem esses aparatos é mais potente e a única via ética possível na relação com outros e com a experiência de sofrimento psíquico. E não se trata de uma ética normativa, que se baliza por deveres e obrigações, mas uma ética que tem entre seus critérios exercer liberdade e aspirar felicidade.


Tudo isso para dizer que dentre tantos frutos (e flores, muitas flores) da experiência triestina, em tempos atuais merecem destaque os textos e livros que o Benedetto Saraceno tem escrito. Nessa época sombria – ou, dito de outro modo e como ele mesmo indica, em “tempos de cerco e de recessão dos direitos, da justiça, da tolerância, da civilidade, da política e de suas linguagens” – os textos dele têm oferecido chaves que desmascaram fenômenos contemporâneos (como a suposta questão emergencial da imigração) e recolocam a importância da coragem e da esperança:


"É preciso de coragem para pensar no impossível e, ao mesmo tempo, se trata de dizer ‘não’, o que não significa apenas combater o populismo, a xenofobia e os derivados ordenamentos de segurança, mas também combater dentro de nós mesmos a tentação àquele pessimismo passivo que nos faz desistir do indispensável ‘otimismo militante’ (...). Trata-se de fazer da ‘esperança’ um projeto de trabalho político para poder renovar tanto os instrumentos de compreensão da realidade como os de ação sobre a realidade. Trata-se de fazer da esperança um projeto de pesquisa: um trabalho sobre o potencial (futuro) do presente".


Leiam Franco Basaglia. E vale muito a pena ler também Benedetto Saraceno.

(e Franco Rotelli, Giovanna Del Giudice, Franca Basaglia...)

 
 
 

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