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Motivos e mecanismos de internação de crianças e adolescentes em hospital psiquiátrico: o circuito do controle

Depois que eu escrevo um texto raramente o leio novamente porque sempre, ao reler, acho que algo nele poderia ser diferente. O texto vai para o mundo e pronto. Esse aqui reli e sigo gostando, o que é raríssimo.

No artigo contamos como hospitais psiquiátricos justificam as internações de crianças e adolescentes e o que as próprias crianças e adolescentes entendem como motivos de suas internações para demonstrar qual a lógica que permeia internações e que sustenta a existência dos manicômios.

As crianças e adolescentes contam que entendem por motivo de suas internações situações que vão desde brigar com a professora de matemática, cometer infrações e usar drogas, até não obedecer aos pais, ir ao baile funk e fazer “rolês".

E, de certa maneira, elas estão certas: é o desvio de normas sociais atribuído a elas que é motivo de internação, ou melhor, motivo de segregação e tutela.

No artigo também explicitamos como a anamnese no hospital psiquiátrico é feita de tal maneira a objetificar o outro, a excluir qualquer contexto e relação e a atribuir a ele uma, assim denominada, "agressividade” (recorde-se: uma tal situação envolve, no mínimo, duas pessoas em relação, com uma história e em um determinado contexto, e a atribuição de forma de expressão de uma relação a apenas uma pessoa é mera objetificação). E também mostramos como as internações se dão em um circuito de controle com dependência recíproca entre as instituições. Assim, mostramos como a tradicional psiquiatria agindo e servido como agente de exclusão, mas também como o problema está para além da psiquiatria.

As pessoas não são internadas em hospitais psiquiátricos apenas porque, como costuma-se dizer, "a rede tem buracos" ou porque "o serviço não deu conta". Mas porque há um circuito de controle operando para custodiar desvios. Então, a internação em um hospital psiquiátrico - ou outra instituição total - não se dá porque um "serviço não funciona bem", mas porque o circuito do controle funciona muito bem...

...

Ainda chegará um dia em que não vai mais haver nenhum manicômio de pé. Mantenho minha esperança nisso. Agora, o manicômio não são suas paredes, mas os papeis sociais e as relações de poder e de institucionalização. Então, é preciso entendermos como essas relações de poder e de institucionalização operam junto e para além dos manicômios para transformarmos as relações e reinventarmos os nossos próprios papeis sociais. É nessa reflexão que esperamos contribuir com esse artigo. Artigos | CSP - Cadernos de Saúde Pública (fiocruz.br)

 
 
 

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