Mortes por suicídio e complexidade da vida
- claudiabraga10
- 11 de jun. de 2018
- 2 min de leitura
Um equívoco frequente de quando se trata de morte por suicídio é associá-la diretamente a um diagnóstico de transtorno mental e, mais comumente, à depressão. O problema dessa leitura é que a resposta fica constrita nos mesmos termos da leitura da questão: se abordar a questão a partir de uma epistemologia da psiquiatria a resposta será medicação e, quando muito, terapia. É a velha simplificação, descontextualização e objetificação de existências em um tecido social em torno de algo denominado por uma disciplina, a psiquiatria, como doença.
As leituras um pouco mais abrangentes apontam as condições econômicas e de vulnerabilidade, por exemplo, como possíveis elementos correlatos. Aqui, outros fatores entram em jogos, mas de modo secundário ou como influenciadores.
No limite, a partir dessas leituras não se produz saúde mental. Nega-se o sujeito em sua complexidade, história, subjetividade e em sua profunda relação com contexto social, que é locus de trocas, intercâmbios e negociações de afetos, mensagens e bens. E tratar apenas como correlatos ou secundários o contexto econômico e social faz com que se retire a centralidade desse contexto e com que a resposta para as desigualdades econômicas e sociais também sejam secundárias.
Com isso, produzem-se entendimentos que, por querer ou sem querer, reforçam o poder da velha psiquiatria. E como as respostas que a gente produz produzem, por sua vez, novas demandas, o resultado disso é o aumento do número de pessoas que tomam medicações. Nada se resolve.
Vale lembrar: quando falamos da necessidade de relações éticas e que cuidam em um tecido social não se trata apenas de dinâmicas afetivas da relação, mas de fato de abrir espaços de negociação na relação. É principalmente sobre dinâmicas de poder contratual em um contexto social e como se coloca o poder contratual em jogo para ampliar o poder do outro. É sobre transformar os lugares sociais e as redes de negociação no tecido social. E isso passa, também, por transformar as condições concretas e materiais de existência nas cidades.
As pessoas precisam ser escutadas e precisam de trabalho e renda. As pessoas precisam ter ampliado seu valor social e precisam de um teto para morar. As pessoas precisam estar inseridas em redes de relação e precisam de condições de viver a vida nos cenários comuns de uma cidade.
Políticas de prevenção ao suicídio precisam abordar a complexidade da vida comum em um território.
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