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Fechando manicômios

Todas as vezes em que entro num manicômio para fins de pesquisa ou vistoria uma mesma cena se repete: alguém me pergunta quando poderá ir embora. Imediatamente me recordo de Basaglia que, nas Conferências Brasileiras realizadas há 40 anos, também relatava isso. Pessoas que foram internadas há poucos dias ou há alguns anos, pessoas para as quais o tempo cronológico já não tem mais sentido – a temporalidade vivida no manicômio é a de um tempo que não passa, porque não há nada a fazer entre acordar e dormir e, também, de um tempo que passa incessantemente ano após ano sem que nada possa ser feito pela pessoa para ela sair dali. A pergunta sempre me causa um nó no peito. Quando saio do manicômio permanecem os ecos desta pergunta em mim. Com esses ecos, eu trabalho e luto para que cada uma dessas pessoas saia o quanto antes, retornando para casa ou indo para um serviço residencial terapêutico. Ainda, trabalho para que ninguém, nunca mais, seja submetido à violência de ser internado ou de morar em um manicômio.


Felizmente esse trabalho está longe de ser solitário.


Como resultado de um trabalho feito a muitas mãos, pois são muitas as pessoas que trabalham para isso, foi determinado o fechamento da porta de entrada do Hospital Psiquiátrico de Nova Friburgo, a Clínica de repouso Santa Lúcia. É um primeiro e importante passo para a desinstitucionalização.

Comemoremos essa pequena vitória, sabendo também que sempre será tarde.

 
 
 

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