Aula OPAS e a experiência brasileira
- claudiabraga10
- 19 de out. de 2022
- 2 min de leitura
Hoje, depois da aula sobre Direitos Humanos & Saúde Mental que demos no curso sobre gestão de serviços de saúde mental organizado pela OPAS para os países não caribenhos, pipocaram perguntas sobre o que fazer em situações desafiadoras, tais como: uma pessoa que se recusa a ir ao serviço, mas precisa de cuidados, ou uma situação relacional crítica em que um familiar se sente muito inseguro, dentre outras questões bem mais complexas. Todas elas perguntas muito pertinentes e - bonito de ver - colocadas em jogo porque está claro para todos que a institucionalização não é mais uma resposta possível.
Mas, permanece a questão sobre como fazer isso na prática - que, a meu ver, tem como fundo e é expressão do desafio de superar a própria psiquiatria como instituição em seus saberes e práticas tradicionais.
Ainda há muito a avançar na agenda de saúde mental e direitos humanos no mundo.
A boa notícia - além daquela de que a luta pelo fim das institucionalizações tem força crescente - é que instituições da desinstitucionalização já foram inventadas. Dá para fazer.
Se a experiência de Trieste foi e continua sendo um farol que ilumina os caminhos de entendimento e de construção de práticas (digo e repito: leiam Basaglia e Rotelli, está quase tudo ali), é a colossal experiência brasileira de reforma psiquiátrica com seus serviços de saúde mental territoriais e substitutivos da RAPS que traz ao mundo uma multiplicidade de exemplos sobre como fazer em diferentes contextos - de megalópoles e complexos centros urbanos à zonas rurais e ribeirinhas, de cenários de grande precariedade e vulnerabilização à micro contextos de produção de vida e ampliação do poder das pessoas, de crianças e escolas à adultos e o mundo do trabalho.
Tudo isso para (me) lembrar que, mesmo com todo o desinvestimento e desmonte dos últimos anos, os serviços da RAPS continuam insistindo em superar a lógica asilar e a inventar coletivamente práticas que afirmam os direitos de cidadania das pessoas. Com muitos desafios, certamente, e nem sempre com conquistas. Mas o compromisso e as práticas seguem vivos nesse processo de transformação que deveria ser tomado como patrimômio cultural imaterial brasileiro.
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