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Alepo

Atualizado: 18 de jul. de 2024


Almocei hoje com o Imad, que nasceu e cresceu em Alepo, na Síria. Ele chegou há dois anos aqui em Genebra, na Suíça, como refugiado. Para chegar aqui, como muitos, cruzou a fronteira com o Líbano, de lá foi para a Turquia, da Turquia para a Grécia para só então conseguir vir para Genebra (lugar que ele decidiu morar enquanto estava preso na Turquia por causa de uma das cinco tentativas de cruzar o mar para a Grécia, mas isso é outra história).

Comentei sobre os bombardeios dessa semana na Síria, ao que ele me respondeu: “Mas isso é bom”. Diante do meu espanto com sua resposta, ele me explicou porque disse isso.


Segundo o Imad, no geral as pessoas tem como imaginário que uma guerra significa bombardeios, armamentos, cenas com mortes e com cidades devastadas. E quando elas vêm essa imagem se dão conta que há uma guerra em curso. Porém, na experiência do Imad aquilo que torna a vida insuportável e insustentável é o estado de guerra em si.


Quando ele morava em Alepo, chegou a ficar seis meses sem acesso à água e aos meios de comunicação. Não havia também comida porque não chegava comida à cidade. Sequer era uma questão de ter ou não ter dinheiro para comprar. Também não havia energia elétrica. Imad me contou que algumas cidades da Síria estão há seis anos sem energia elétrica. Soma-se a esse cenário o constante medo e estado de alerta. Enfim, para ele apenas quando são noticiados os bombardeios, como na semana passada, é que as pessoas se dão conta que há uma guerra em curso e que tem pessoas morrendo, porque no geral é isso – essas cenas – que as pessoas entendem por guerra (aqui ele faz uma longa ressalva sobre a parcialidade da mídia para noticiar alguns bombardeios e não outros, mas essa também é outra história). Para encerrar essa história, para o Imad será apenas com mobilização internacional, o que acontece após essas cenas de bombardeio, que existirá alguma possibilidade de a guerra ter fim. De forma alguma Imad quer que bombardeios continuem e que pessoas morram. Inclusive, seus pais continuam morando em Alepo. O que Imad deseja é que a guerra tenha fim e que ele possa ir visitar seus pais.


Depois disso, não estava mais espantada. Mas continuo até agora sem palavras

 
 
 

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